Depois de atenta leitura e leve estudo sobre o trabalho do meu trisavô Guilherme João Carlos Henriques achei por bem referenciá-lo numa enciclopédia virtual aqui na Internet, a Wikipédia. Mas à medida que ia levantando informarção para a colocar on-line, multiplicavam-se os interesses específicos e o número de nomes e referências que apareciam era cada vez maior, interligando-se numa interminável teia de panorama histórico que me prendeu desde o início até aqui, o que penso ser o primeiro passo no encalço do trabalho deste meu antepassado.

Em paralelo tenho vindo a desenvolver uma também iniciática investigação genealógica com o objectivo de reconstruir a árvore da famí­lia. Como nestes campos os resultados de busca se tornam tão dispersos como ricos, e como julgo como primeiro bem necessário a partilha de conhecimento, coloco todo o trabalho reunido que considero relevante em domí­nio público julgando com isso oferecer, através do meu lazer, alguma informação a quem por ela se interesse. Para esta 5.ª edição não oficial do trabalho de investigação sobre a Quinta da Carnota, transcrevi os textos referentes para o computador, corrigindo-os, adaptando-os e juntando-lhes toda a informação gráfica contemporãnea e antiga que já tinha da pesquisa genealógica. Sabendo que depois da sua aquisição pelo Conde de Carnota, a Quinta passou a ser uma casa de famí­lia que, embora já separadas, casa e família ainda hoje existem. Por isso e nas Épocas referentes ás edições da obra original apresento a versão aumentada de um novo valor, o valor histórico de uma famí­lia.
Guilherme Noronha

Junho de 2006


Sobre o Autor


Biografia
Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota) era inglês, natural de Londres, onde nasceu em 27 de Março de 1846. Inglês, portanto, jurae solis e jurea sanguinis, o seu nome de baptismo era William John Charles Henry.
Veio para Portugal em Janeiro de 1860, tinha então 14 anos. Em Portugal viveu com o seu padrinho, John Smith Athelstane, que foi em Portugal o primeiro Conde de Carnota, e era descendente do Rei Eduardo Athelstane, o qual reinou em Inglaterra de 817 a 837. Pouco depois da sua vinda, requereu em Portugal para usar o nome de Guilherme João Carlos Henriques, tendo sido seu padrinho neste segundo baptismo, em que abraçou a religião católica, pois até então era protestante, o Du­que de Saldanha, que ao tempo morava em Lisboa, no Pátio do Geraldes.
Fixou residência na Quinta da Carnota, no concelho de Alenquer, propriedade do Conde da Carnota, her­dando deste aquela quinta magnífica, por sua morte, em 1886.
Guilherme Henriques, a quem a boa gente do povo do concelho de Alenquer conhecia por «O inglês da Carnota», designação que se conservou dada a seu filho João Carlos Henriques e se mantém ainda hoje, pois assim é conhecido seu neto o Sr. João Veiga Henriques, gastou a sua vida entre os labores da sua Quinta da Carnota, à qual tanto queria, e os seus estudos. Foi um self made man.
Guilherme Henriques foi educado à maneira inglesa. Era um gentleman. Lembramo-nos bem e com admiração da sua figura, que, apesar de decorridos quase 5 lustros após a sua morte, ainda está presente na memória das gentes do concelho de Alenquer. Essa gente via nele um amigo. Graças a Deus, já vemos que nem sempre Lês morts vont vite. Os homens passam, mas a sua memória fica, perdura, mormente quando esses homens nos lega­ram alguma coisa classificadora da sua personalidade e que, muitas vezes, marca uma época.
Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota) enfi­leira nesse número. Gastou a sua vida a trabalhar, legan­do-nos uma série de estudos importantes. Enfim, como muito bem disse um poeta nosso:

Que a vida já gastada em buscar vida,
Falta para a lograr quando se alcança.


É bem certo!... Assim tem sucedido a tanta gente.
O início dos seus trabalhos literários fê-lo Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota) na colaboração dada ao Conde da Carnota na colectânea das Memórias do Marquês de Pombal. O Conde da Carnota vivia na sua quinta e era Guilherme Henriques quem lhe fazia as buscas para a sua investigação.
O crítico do «Times» observa, ao falar das Memórias do Marquês de Pombal, publicadas pelo Conde da Carnota:
«Fechando o nosso resumo desta biografia, tão notá­vel em todos os seus detalhes, podemos observar que é caso raro um biógrafo achar-se senhor de tanta maté­ria, como foi a sorte do Conde da Carnota reunir. Tendo livre acesso aos despachos públicos de Inglaterra e Por­tugal, ele junta também o poder ilimitado de rever os diários e papéis particulares da família, etc.»
Era o acesso fácil aos arquivos, aos quais Guilherme Henriques ia fazer as investigações precisas a seu pa­drinho, que abria o horizonte para os estudos realizados mais tarde.
O seu labor literário foi grande. Apaixonado pela terra onde se fixou, procurou estudá-la, analisando-a sob o seu aspecto histórico, sob o aspecto económico, sob o aspecto artístico e monumental e ainda a alguns dos seus homens notáveis.
O próprio escritor nos dá a confirmação do afirmado, quer na «Introdução» da 1.a edição do Alenquer e seu Concelho, quer ainda na que propôs aos seus Inéditos Goesianos.


A obra literária:
a) Obras referentes a Alenquer e seu Concelho.
Guilherme Henriques foi, na verdade, o primeiro cro­nista de Alenquer.
O conjunto de trabalhos componentes deste grupo afasta tanto o seu autor daqueles que anteriormente se ocuparam daquela região, que lhe dão efectivamente a primazia.
Lançou-se na feitura de uma monografia de Alen­quer. Primeiramente, ensaiou um trabalho total de con­junto. Depois, ensaiado o estudo, publicado este, verificou, e bem, que não era em um só volume que podia escrever-se uma monografia completa de uma região onde, por uma lado a história se leva até às mais antigas memórias da vida humana na península, e que, mercê de variadas razões, teve uma categoria sempre grande na vida dos povos; por outro lado, o desenvolvimento económico foi também sempre de importância. Assim, re­solveu em nova edição desdobrar o trabalho e publicá-lo, dividindo-o em séries, várias, cujo plano por certo esta­beleceu, mas que não nos deixou indicado em qualquer dos volumes posteriormente publicados. Aparece-nos assim, na 2.a edição do seu Alenquer e seu Concelho, a obra dividida em várias partes, que, a seguir, descreve­mos, ainda que sumariamente.
Não dispôs dos elementos de que hoje dispomos. Não conheceu documentos que hoje são conhecidos, e que lhe teriam permitido tirar ilações que, assim, não pôde tirar.
Se bem que, no tempo em que trabalhou, os moldes em que hoje assentam as monografias não estivessem es­tabelecidos, teve a boa visão da doutrina em que devia assentar o seu estudo, e fez um trabalho consciencioso e sério que abriu bastante o caminho a outros que poste­riormente foram feitos. Dele nos servimos largamente rios estudos que também realizámos relativos ao conce­lho de Alenquer. Compõe-se este grupo das obras referentes a Alenquer das seguintes espécies:

1.° Um volume denominado Alenquer e seu Concelho impresso em Lisboa, na Tipografia Universal, em 1873. In 4.° de 316 páginas e 4 In., ilustrado com 4 litografias em hors text, representando D. Beatriz de Gusmão, Damião de Goes, quinta da Carnota, e as duas lápides que se encontram sobre o portal da Igreja de S. Francisco. No final, em folha desdobrável, um mapa litografado do concelho de Alenquer. Quer do mapa quer das lápides, foram ambas as litografias feitas pelo próprio Guilherme Henriques. (140x220 mm, pp316, Capa dura)
Este trabalho valeu a seu autor ser condecorado com a comenda da Ordem Militar de Cristo.
Neste volume trabalha o autor todo o concelho de Alenquer. Claro está que o estudo é bastante: sumário e representa o primeiro ensaio de uma obra de conjunto acerca daquele concelho. Tanto assim o considerou Hen­riques, que nos deu depois uma segunda edição, infeliz­mente inacabada, em que as coisas já tomam outro as­pecto. Desta 2.a edição não se conhece o plano. Henri­ques não o expôs em nenhum dos volumes publicados, nem seu neto, o Sr. João Veiga Henriques, que muito nos auxiliou neste trabalho pondo, à nossa disposição livros e manuscritos de seu avô, encontrou alguma coisa que pudesse orientarmos acerca desse plano que evidente­mente existiu. O certo é que nos aparecem os volumes seguintes:

2.° — Alenquer e seu Concelho — 2.a edição.
Parte IX — «Bibliografia Alenquerense».
Fascículo II— «A Relação de Duarte Corrêa».
Publicado 'em Alenquer, pela Tip. e Papelaria Cam­peão & C.a.
Não se pode admitir que Guilherme Henriques come­çasse esta edição em 1901 pela parte IX sem ter uma ordem qualquer preestabelecida.
Trata-se da «Relação do Alevantamento de Ximabara e de seu notável cerco, e de várias mortes de nossos por­tugueses pela Fé».
O autor, Duarte Corrêa, fazia parte da Companhia de Jesus, era familiar do Santo Ofício e natural de Alenquer.
Foi pela primeira vez publicada esta Relação em Lis­boa, por Manuel da Silva, no ano de 1643.
Desta obra de Duarte Corrêa publicou Guilherme Henriques outra edição em tradução inglesa, com o título «An account of the Rising at Ximabara», também saída da Tipografia H. Campeão & C.a, de Alenquer, no mes­mo ano de 1901.

3.° — Alenquer e seu Concelho — 2.a edição.
Parte IX — «Bibliografia Alenquerense».
Fascículo III — As obras de Manuel de Mesquita Perestrelo.
1.°— «Naufrágio da Nau S. Bento».
2.°—«O Roteiro».
Foi também impresso em Alenquer, na Tipografia de H. Campeão & C.% no mesmo ano de 1901.
O Naufrágio da Nau S. Bento teve a sua primeira edição em Coimbra, por João de Barreira, em 1564. O Roteiro não consta que fosse impresso em vida do seu autor. Se foi publicado, não há notícia de exemplar algum conhecido. Em 1681, porém, saiu na Arte Prática de Navegar, de Luís Serrão Pimentel, a páginas 364 e se­guintes; em 1699, na Arte de Navegar de Manuel Pimentel, filho do anterior, a páginas 382 e seguintes, e a páginas 446 e seguintes da edição do último livro citado, publicado em 1746. Este Roteiro foi aproveitado por Aleixo da Mota, cosmógrafo da carreira da índia em 1598 e autor do Roteiro da Navegação da índia. Foi traduzido para francês por Monnevillete, que o inseriu no seu Neptune Oriental.
O manuscrito existe no magnífico arquivo de Évora, com a carta e as figuras das conhecenças.
A razão pela qual Guilherme Henriques fez incluir estes trabalhos de Manuel Mesquita Perestrelo, como o de Duarte Corrêa, na «Bibliografia Alenquerense» foi o facto de seus autores serem naturais do concelho de Alen­quer. Parece que Henriques pensava em juntar os traba­lhos dos naturais do concelho, formando com eles uma colecção a que chamou «Bibliografia Alenquerense».
Este Manuel de Mesquita Perestrelo era natural da quinta da Cabreira, hoje casal da Cabreira, da fregue­sia de Santo Estêvão, Este mesmo Perestrelo era parente de vários navegadores notáveis. Era sobrinho de Mem Pegado, conhecido nos anais marítimos lusitanos do século de quinhentos, e parente da mulher de Cristóvão Colombo. Encontra-se enterrado na capela da quinta da Carnota.

4.° — Alenquer e seu Concelho — 2.ª edição.
Parte XI — «A Freguesia de Santo Estêvão».
Fascículo II — «O ex-Convento da Carnota».
Impresso em Lisboa, na oficina tipográfica A Libe­ral, em 1901.
(155x230 mm, 38pp, Capa mole)
Este trabalho de Henriques é de natureza diversa dos últimos apresentados. Aqui, seu autor faz um estudo por­menorizado de uma das mais antigas e belas propriedades do concelho, a sua magnífica quinta da Carnota, que, como já dissemos, herdou de seu padrinho, Conde da Camotta, e na qual o seu grande culto pelo passado, o seu bom gosto, e as suas possibilidades financeiras fizeram levar à cabo uma obra de reconstituição, de conservação e de perfeição notáveis. A quinta da Carnota ocupa o edifício e cerca onde em 1408 foi fundado o convento da Carnota, de frades franciscanos, a quem D. João. I doou um terreno que para tal adquiriu às freiras de Odivelas, onde havia uma ermidazinha com uma imagem de Santa Catarina, que viera da capela primitiva do con­vento daquele orago junto a Alenquer, quando foi arrui­nada pelas cheias do rio que naquela vila passa. Os fun­dadores de tal convento foram Fr. Diogo de Árias, asturiano, grande letrado e pregador, Fr. Gonçalo Marinho, filho e herdeiro da casa de Altamira, Fr. Pedro de Alamamos, Fr. Francisco Sales e Fr. Garcia Montanos, todos espanhóis, que para Portugal vieram por finais do sé­culo XIV, na; altura da célebre dissenção conhecida na história pelo título de «o grande sisma Ocidental».
Ao convento então nascente doou também D. João I doze colunas de mármore que mandou trazer de Ceuta quando tomou aos infiéis aquela praça, em 1415.
Extintas as ordens religiosas em 1834, passou o con­vento a mãos de particulares.
Deste trabalho de que nos estamos ocupando publi­cou Guilherme Henriques nova edição, a 3.ª, em 1914, feita em Lisboa, na Tipografia José Assis & A. Coelho Dias, introduzindo-lhe vários acrescentamentos sobre a matéria publicada na edição anterior.
(150x225 mm, pp40, Capa mole)

5.° — Alenquer e seu Concelho — 2.ª edição: cor­recta e aumentada.
Parte X — «A Vila de Alenquer».
Impressa em Lisboa, por A Liberal, em 1902.
(165x240 mm, 235pp, Capa Mole)
Neste volume dá-nos o autor um estudo da vila de Alenquer debaixo de todos os seus aspectos.
Ali se estuda a velha vila de Alenquer, à luz de vária documentação. A parte monumental é vista com bastante minúcia. Muito ilustrado, este volume insere não só nu­merosas fotografias, como também desenhos de Ribeiro Cristino, natural do concelho, dessa geração de artistas que foram, além dele, seu pai e são seus filhos.
A obra de Guilherme Henriques acerca do concelho de Alenquer e de todas, em todos os tempos, a maior. Antes de Henriques, somente conhecemos em volume pró­prio, respeitante a Alenquer, os seguintes:
«Relação das freguesias e lugares que tem a Vila de Alenquer», por António Pereira da Silva, publicado em 1716;
«Memória sobre alguns melhoramentos possíveis na Vila e no Concelho de Alenquer», por Albino deAbranches Freire de Figueiredo, publicado em 1851;
«Relacion de la antiguidad y particularidades de Ia noble villa d’Alanquer», publicado sem data, nem nome de autor, nem lugar de impressão, e do qual somente conhecemos um exemplar existente na Biblioteca Na­cional de Lisboa;
Termina aqui o primeiro grupo dos trabalhos publi­cados por Guilherme Henriques.

b) Obras várias
Guilherme Henriques foi, como já dissemos, colabo­rador do Conde da Carnota, seu padrinho. Auxiliou-o nos seus trabalhos para a publicação das Memories of the Marquis de Pombal, 2.a edição, publicada em 1871 (230x155 mm, pp 387, Capa dura).

6.° — Carta ao Exm.° Senhor Duque de Saldanha expondo as ideias de «Um Homem do Povo». — Sobre as reformas que se acham necessárias no País.
Impresso em Lisboa, na Tipografia Universal, em 1870.
Este pequeno opúsculo aparece-nos com o pseudónimo «Um Homem do Povo».
Martinho da Fonseca, no seu «Subsídio para um di­cionário de pseudónimos, iniciais e obras anónimas», não inclui o pseudónimo «Um Homem do Povo»; porém, na 3.a secção do dicionário aponta este trabalho. Pela descrição que faz, supomos que não tenha visto o folheto, pela falta de indicações bibliográficas. Erra, porém, quando o atribui a Guilherme de Abreu e não a Gui­lherme João Carlos Henriques.
Estamos citando o folheto em presença de um exem­plar pertencente ao neto do seu autor o Sr. João Veiga Henriques.
Podemos dizer que a tiragem foi de 500 exemplares e que foi paga por 11$300 réis, no dia 2 de Julho de 1870. O exemplar que era de Guilherme Henriques, tem junto a factura-recibo da edição.
Além desta indicação, a l.a edição de Alenquer e seu Concelho tem na capa .,. por Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota) autor da Carta ao Ex.mo Se­nhor Duque de Saldanha, Manuscritos que também vimos feitos pela sua mão assinam-se com aquele pseu­dónimo.
7.°— O Príncipe de Gales — Estudo Histórico, Bi­bliográfico e Genealógico sobre o ilustre viajante que, regressando da índia, vem abordar à «Ocidental Praia Lusitana ».
Impresso em Lisboa, na Tipografia Universal, em 1876.
Trata-se de um curioso estuda acerca daquele que mais tarde foi o Rei Eduardo VII de Inglaterra.
Foi escrito por ocasião da sua visita a Lisboa, à volta da viagem que fez à Índia.
No folheto, Henriques. historia as razões dos dife­rentes títulos do então Príncipe de Gales, narra ane­dotas da sua vida que honram o carácter desse homem que durante tantos anos ditou a moda ao mundo mas­culino e mais tarde tanta interferência teve na política do mundo. É ilustrado com um retraio litografado por Salema, representando o Príncipe de Gales.
8.° — Novo Guia Luso-Brasileiro do Viajante na Eu­ropa.
Impresso em Lisboa na Tipografia Ferreira, Lisboa & C.a em 1876.
Este trabalho de Guilherme Henriques é o primeiro roteiro de viagens em língua portuguesa. Os seus editores dizem no prefácio da necessidade que então havia de um livro deste género em Portugal. É um roteiro de viagens em Portugal, Espanha, França, Grã-Bretanha, Bélgica, Holanda, Suíça, Itália, Alemanha, Áustria, Rússia, Dina­marca, Suécia e Noruega. Indica os pontos mais impor­tantes para o viajante visitar, dá notícia de hotéis e, enfim, põe o vagamundo em contacto com as primeiras necessidades ao chegar a país estranho.
9.° — Inéditos Goesianos — são dois volumes ambos impressos na tipografia de Vicente da Silva & C.a, o pri­meiro em 1896 e o 2.° em 1899.
No 1.° volume ocupa-se Henriques de Ruy Dias de Goes, dividindo o livro em 3 partes: A l.a a sua ár­vore genealógica, a 2.a o seu testamento, a 3.a o testa­mento da sua esposa, Isabel Gomes de Limi. O 2.° volume trata do processo na Inquisição, documentos avulsos e notas.
A grande maioria dos documentos apresentados por Henriques no 1.° volume dos Inéditos Goesianos encon­travam-se inéditos. Parte do processo na Inquisição que nos dá no 2.° volume também estava inédita, visto outra parte ter sido publicada por A. Lopes de Mendonça no Damião de Goes e a Inquisição de Portugal.
Este trabalho de Henriques, que é fundamental para os estudos goesianos, dá-nos também elementos interes­santes acerca do Santo Ofício. Encontra o estudioso nesta obra de Guilherme Henriques uma documentação preciosa para o estudo do cronista. Nele veio a reprodu­ção facsimilada do registo de óbito de Goes, que faleceu a 30 de Janeiro de 1574. Este documento fazia parte do cartório da Igreja de Santa Maria da Várzea, de Alemquer. Supomo-lo perdido, porquanto procurámos os livros deste cartório e não os encontrámos. Sabemos, porém, que em 1911 vieram para Lisboa. Onde param, se é que ainda existem, não sabemos. Outro tanto sucedeu com outros daquele concelho. A publicação, pois, feita por Guilherme Henriques, permite-nos poder afirmar a data da morte do famoso cronista de D. Manuel.
Inéditos Goesianos, é a mais notável obra acerca de Damião de Góes.
Segue-se na ordem cronológica:

10.a — Correspondência do Marechal Duque de Sal­danha — são 3 volumes impressos em Lisboa na Tipo­grafia da História de Portugal.
O 1.º volume trata das cartas das Majestades, de Lord Howard de "Walden, Sir G. H. Seymour, Duque de Pal­mela e José António de Azevedo Lemos, publicado em 1905 pela Tipografia da Empresa da História de Por­tugal.
Guilherme Henriques, neste volume não só nos dá a correspondência referida, como a precede de bastas no­tas biográficas dos dois ministros ingleses e de uma rela­ção cronológica de factos ocorridos durante a vida do Duque de Saldanha.
O 2.° volume compreende as cartas de Agostinho José Freire. Precede-as de numerosas notas biográficas da­quele homem de Estado, e de um resumo cronológico da biografia. Foi publicada em 1904 pela tipografia da Em­presa da História de Portugal.
O 3.° volume ocupa-se com cartas e ofícios confidenciais de Rodrigo da Fonseca Magalhães, ofícios reser­vados e confidenciais do Marechal Duque de Saldanha enviados de Madrid ao Ministro Rodrigo da Fonseca Ma­galhães, durante a missão de 1840/1841, e instruções que o Marechal levou para aquela missão. Publicado em 1906, na Tipografia da Empresa, da História de Portugal.
Todos estes volumes são ilustrados com bons retratos das pessoas de que tratam.
Este trabalho de Guilherme Henriques foi feito com as próprias cartas originais dirigidas ao Duque de Sal­danha. É fácil de perceber como Henriques as possuía. John Athelstane, padrinho de Henriques, foi secretário do Duque de Saldanha. Este foi casado em segundas núpcias com uma irmã de Athelstane, portanto, seu cunhado.
Por morte do Duque de Saldanha, viu-se que, em seu testamento, determinava que a Duquesa, sua viúva, ficava com o encargo de entregar os seus papeis e confiar o es­tudo e revisão destes — escritos, documentos e corres­pondência — a pessoa que para tal elegesse, com o fim de queimar os que julgasse prudente e utilizar os ou­tros como melhor julgasse para auxílio da história con­temporânea ou outra informação qualquer (1) Escolheu aquela Senhora a seu irmão, o Conde da Carnota, donde, por sua morte, e por herança, vieram os papeis às mãos de Guilherme Henriques.
Em seguida, porém, à morte de Saldanha, sua viúva verificou o desaparecimento de papeis, com arromba­mento de gavetas onde se encontravam (2). Que papeis seriam? Quem os teria tirado? Nada se sabe.
Henriques, sabendo o valor histórico que repre­sentava aquela colecção de cartas originais, não só pêlos nomes que as assinavam, mas também pêlos assuntos a que se referiam numa época um tanto agitada da vida da nação, doou esses magníficos exemplares à Biblioteca Nacional de Lisboa, com a condição de, com elas, se or­ganizar uma colecção denominada Carnotense, em home­nagem à memória do Conde de Carnota. Do mesmo modo doou ao Museu de Artilharia a espada que Salda­nha trazia na batalha de Torres Vedras, em 22 de De­zembro de 1846; a última banda que usou, uma colecção de diplomas de condecorações concedidas, ao Marechal e de nomeações para cargos militares, uma espada de hon­ra oferecida pela Société Universelle de Civilisation, de França, ao tenente general João Carlos de Saldanha, em 1833, com o respectivo diploma, um retrato a óleo do Marechal, vestido à paisana, e outro ainda dele pintado entre 1840 e 1850 pelo pintor alemão Boehm, irmão do escultor da Rainha Vitória, Sir Edgar Boehm.
A El.-Rei D. Carlos entregou Guilherme Henriques o diploma de concessão de outra espada de honra, igual à do Marechal, ao imperador D. Pedro IV, concessão tam­bém feita pela Société Universelle de Civilisation.
Assim, nem as cartas nem os outros objectos se per­derão. Foi um exemplo dado por um estrangeiro — es­trangeiro só de sangue — que tanto carecia ser imitado por tantíssima gente,

11.° — George Buchanan in the Lisbon Inquisition.
É um estudo sobre a figura do inglês Buchanan, publicado em Lisboa em 1906
G. Henriques sita nos seus Inéditos Goesianos, várias vezes, o processo da inquisição referente a Buchanan.

12.° — Descrição do Convento de Nossa Senhora dos Remédios dos Carmelitas Descalços.
Publicado em Lisboa em. 1910.
É uma espécie olissiponense de interesse. Dá-nos a conhecer em minúcia aquele antigo Convento de Lisboa.

13.°— A Bibliografia Goesiana.
É um opúsculo de 66 páginas publicado em 1911, em separata do «Boletim da Sociedade de Bibliófilos Bar­bosa Machado». O trabalho foi ali publicado nos núme­ros 2 e 3.
Neste seu trabalho Guilherme Henriques descreve-nos 63 espécies goesianas.
Como o autor nos declara, todas as espécies descri­tas ou faziam parte da sua colecção ou, quando as não tinha, viu-as, compulsou-as, examinou-as. A colecção do ilustre bibliófilo Aníbal Fernandes Tomás foi-lhe facul­tada, e ali, Henriques, encontrou boa parte de que ca­recia das obras de Damião de Goes.
Guilherme Henriques, que possuía uma boa Goesiana, tinha exemplares que foram do uso do próprio Damião de Goes. Assim, por exemplo, na primeira edição, que possuía, da crónica de D. Manuel, de 1566, quer na primeira, quer na segunda partes, está a assinatura auto­grafada de Goes.
Guilherme Henriques, nesta Bibliografia Goesiana, não se limita a enumerar e descrever as obras de Damião de Goes, antes ao contrário, também as estuda bibliograficamente. Bem interessante é o estudo que faz das edi­ções da Crónica de D. Manuel.

(1) Guilherme J. C. Henriques (da Carnota), Correspon­dência do Marechal Duque de Saldanha — pág. III.
(2) Idem, ibidem — pág. VIII.


c) Colaboração em revistas e jornais.
Esta é a parte mais difícil, pois não há alguma rela­ção dos escritos de Guilherme Henriques dispersos por jornais e revistas. Sabemos, porém, que, além de variados trabalhos acerca de marcas e patentes, em que, aliás, era perito, escreveu nos seguintes boletins, revistas ou jor­nais.
Sobre assuntos da sua simpatia espiritual, colaborou no Boletim da Real Associação dos Arqueólogos E Ar­quitectos Portugueses no Instituto, no Arquivo His­tórico e no Boletim da Sociedade de Bibliófilos Diogo Barbosa Machado.
Tem colaboração sua no jornal Damião de Góes, de Alenquer, onde em 3 de Janeiro de 1892 publicou um in­teressante artigo sobre a segunda tipografia existente no concelho de Alenquer e instalada na quinta da Mascote, em 1612.
Saído desta Tipografia temos notícia de um único exemplar bibliográfico, que se encontra na Biblioteca da Escola do Exército.
Em 1 de Janeiro de 1893 publicou outro artigo acer­ca da terceira tipografia em Alenquer, que funcionou no Convento da Carnota, em 1627. Logo a 29 do mesmo mês, novo artigo em que refere a primeira tipografia que existiu no concelho de Alenquer, e que foi instalada em Vila Verde dos Francos, em 1581.
A 23 de Junho de 1895, Guilherme Henriques dá-nos novo artigo sobre um Livro de Orações a Santo Antó­nio, no qual o autor se refere a uma imagem deste santo português exposta na quinta da Lagem, datado o livro de 1742.
Teve larga colaboração em Alenquerense, jornal que se publicava em Alenquer.
Colaborou no jornal Crença Liberal, onde pu­blicou artigos vários assinados com o pseudónimo «Um Homem do Povo». Colaborou ainda no Campeão das Províncias. Publicou folhetins vários com contos de sua autoria, assinados com as iniciais G. H. Neste mesmo jornal publicou crónicas assinadas F.
Pouco tempo antes da sua morte, começou a escrever em um jornal de Vila Franca de Xira a história daquele concelho, trabalho que ficou incompleto.
Pessoa culta, Guilherme Henriques escreveu contos baseados em vários dramas de Shakespeare, como A Tempestade.
Sabemos também que colaborou na revista inglesa «British Weekly».
Mais sabemos ainda que Henriques escreveu um opús­culo em inglês com o título The Truth, or Portugal under a liberal governement, que se publicou em Londres, em Novembro de 1872. A este trabalho faz referência no frontispício da primeira edição de Alenquer e seu Con­celho, quando, a seguir ao seu nome, diz: autor de cartaS ao Exm.° Senhor Duque de Saldanha e The Truth — nunca, porém, vimos qualquer exemplar.
Destes trabalhos de Guilherme Henriques tivemos conhecimento por um livro intitulado Peças Originais, que nos foi facultado pelo Sr. João Veiga Henriques, no qual seu avô escrevia alguns dos seus trabalhos e se en­contram colados recortes dos jornais onde publicou alguns deles. Por esse livro se vê bem ser Guilherme Hen­riques quem usava o pseudónimo «Um Homem do Povo» e que assinava vários artigos com as iniciais G. H. e F., como referimos.
Uma nota vamos acrescentar ao que está conhecido de Guilherme Henriques. Conhecíamo-lo como prosador. Não sabíamos, porém, que tinha cultivado a poesia. No mesmo livro que referimos encontravam-se várias poesias de que foi o autor. Utilizou a quadra, em que compôs lar­gamente, tendo produções bem interessantes. Encontrámos o começo de um poema «Alenquer» em alexandrinos, onde Henriques exaltava a sua terra adoptiva. Guilherme Henriques, que era inglês porque nasceu na Grã-bretanha, adaptou-se de tal modo à terra portuguesa que era de coração um português. Alenquer seduzia-o. A história brilhante desse rincão da nossa terra apaixonava-o. O contacto com a gente do povo bom que conhecemos afez-lhe o carácter e a alma, transmudada pela luz e pelo céu azul de Portugal.
A sua quinta da Carnota, com os seus cinco séculos de história vividos entre os muros e as preces conventuais deliciavam-no. Era um espírito e um homem de coração.
Foi Guilherme Henriques um dos fundadores da Câ­mara de Comércio Inglesa de Lisboa. Fê-lo com o seu entusiasmo, deu-lhe a sua colaboração. Elaborou para esse organismo o seu estatuto. Tão bem ou tão mal se de­sempenhou desse encargo que, tantos anos passados, com pequenas! Alterações, ainda hoje esse estatuto rege a vida daquele organismo.

Agora que passa o centenário do nascimento desse "varão ilustre, rendemos homenagem à sua memória, visto que ele foi tão prestante à nossa terra.
Não escolheu bem João Veiga Henriques incumbindo-nos de fazer esta biografia. Fizemo-la, porém, porque depois de Henriques, fomos nós quem mais se ocupou do seu assunto predilecto: A História de Alenquer. Fize-mo-lo com satisfação, pois assim podemos contribuir para prestar homenagem a alguém que admiramos.
Guilherme João Carlos Henriques (da Carnota) dei­xou este mundo em 22 de Maio de 1924. O semanário de Alenquer A Verdade publicou na sua primeira pá­gina uma crónica, em 25 do mesmo mês, em que relata, ainda que sumariamente, os trabalhos de Henriques sobre Alenquer.
Na Sala Nobre dos Paços do Concelho, naquela vila, há um magnífico retrato, a óleo, de Guilherme Henriques.
A Associação dos Arqueólogos Portugueses realizou neste ano uma sessão solene comemorativa do centenário do seu sócio Guilherme Henriques.

Requiescat in pace!

A partir de LUCIANO RIBEIRO (dos Arqueólogos Portugueses e do Instituto de Coimbra) in Prefácio de O EX-CONVENTO DA CARNOTA, HENRIQUES, Guilherme João Carlos, 4.ª Edição, Lisboa 1946.
(160x230 mm, pp89, Capa mole)



13 Comments:

Blogger Diafragma said...

Os meus sinceros parabéns pela obra que levaste a cabo Guilherme.
Vivam os Blogs e os seus autores!

9:43 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

parabéns meu estimado amigo, embora outra coisa não fosse de esperar de um descendente de tão ilustre gente. Não há dúvida que quem sai aos seus não degenera.
um abraço
Paulo Morais

11:59 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

olha que coisa máilinda

9:05 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Parabens pelo trabalho de pesquisa sobre a familia.
É muito importante perceber quem nos antecedeu e como.

1:31 da manhã  
Blogger Arlindo Correia said...

Muito interessante. O livro de Guilherme João Carlos Henriques (Carnota), em que transcreveu e traduziu o processo de George Buchanan (n.º 6469 da Inquisição de Lisboa), foi-me muito útil para estudar o príncipe dos poetas novilatinos. Pesquisando a base de dados www.archive.org, com o nome Carnota, encontram-se online muitas obras deste autor e de seu padrinho, John Smith Athelstane Carnota.

5:34 da tarde  
Blogger Unknown said...

Caro Guilherme,

Antes de mais, parabéns pelo teu trabalho!

Porque não mencionar à cabeça que Guilherme João Carlos Henriques é filho e não afilhado do Conde da Carnota?
Como sabes há um documento comprovativo desse facto quando se deu o seu segundo casamento em Londres.

Um abraço do teu primo António Carlos Henriques da Carnota

8:55 da tarde  
Blogger Unknown said...

Se quiseres contactar comigo, o meu e-mail é antoniohenriques.carnota@gmail.com

O Carnota é, evidentemente, entre aspas.

8:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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9:15 da tarde  
Blogger Luisa said...

Só hoje descobri este blog. Sou de Alenquer e muitos dos meus estudos sobre a minha Família foram baseados no Alenquer e o seu Concelho. Bem haja o seu autor

4:44 da tarde  
Blogger Luisa said...

Só hoje descobri este blog. Quero felicitar o seu autor por lembrar aqui o grande homem que foi Guilherme Henriques, autor de Alenquer e seu Concelho que muito me ajudou a reconstituir a minha Família, toda de Alenquer.

4:51 da tarde  
Blogger Unknown said...

Estou a preparar obras de recuperação de jazigos abandonados nos cemitérios de Lisboa.
Quando pesquisava no Cemitério do Alto de São João um jazigo grande, com aspecto abandonado, no cruzamento das ruas 9 com 28, com o epitáfio "Casa de Carnota", cheguei a este blog.

Será a mesma família? Se sim podem regularizar a situação na secretaria do cemitério.

5:00 da tarde  

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